A enciclopédia impossível. Forma e significado do Zibaldone di Pensieri[1]
Mario Andrea Rigoni
Universita’ degli Studi di Padova
Por quinze anos, de julho de 1817 a
dezembro de 1832, Leopardi registrou – em um «imenso volume manuscrito, ou calhamaço»[2]
que reúne o número de 4526 páginas – anotações e reflexões sobre os assuntos
mais variados, da vida pessoal à filologia, da linguística à literatura, da
filosofia à estética, da política à história. Aparentemente não seguia um
desenho preordenado e, ainda, não respeitava na escrita, ritmos, medidas e
formas constantes. Podia escrever em um único dia mais de meia dúzia de notas
diferentes (é o caso de 4 de fevereiro de 1821), ou então dedicar mais dias a
uma só nota, desenvolvida até o ponto de constituir um pequeno tratado (é o
caso da análise dos diversos tipos de governo, feita de 22 a 29 do mês
anterior). Analogamente, podia escrever outras 1800 páginas em um só ano, come
acontece em 1821, mas também menos de 3 páginas no curso de mais anos, como
acontece no triênio de 1830-1832. No mesmo período, praticava e mesclava todas
as formas da escrita breve: a anotação, a citação, a recordação, o provérbio, a
máxima, o lema, a anedota, o aforismo, a reflexão, o ensaio. Quando, em 4 de
dezembro de 1832, escreveu a última nota, Leopardi deixava um documento humano,
intelectual e também poético raríssimo, se não único, na nossa tradição
literária.
Singular
é também a história que o manuscrito viveu, permanecendo inédito por mais de
meio século. Primeiramente guardado pelo amigo Antonio Ranieri, que tinha o
hábito de, de tempos em tempos, espalhar flores sobre ele, em sinal de amor e
de devoção. O manuscrito fica em posse, depois da morte dele, de duas
empregadas, para as quais foi, perigosamente, deixado como herança. Foi
comprado pelo Estado Italiano mediante um processo e foi publicado pela
primeira vez em Florença, pela editora Le Monnier, entre os anos de 1898 e
1900, por uma comissão ministerial presidida por Giosué Carducci. À edição,
propiciada pelo primeiro centenário do nascimento do poeta, foi dado o título Pensieri di varia filosofia e di bella
letteratura, escolhido a partir de um dos índices leopardianos. Tal título
foi substituído nas edições sucessivas, primeiramente pelo de Zibaldone e, em seguida, a partir de
Flora (1937), pelo título – o único propriamente correto – de Zibaldone di Pensieri, como o próprio
Leopardi chamou o seu manuscrito, quando em 11 de julho de 1827 começou a
elaboração do índice analítico, terminado em 14 de outubro do mesmo ano[3].
Não existe, de fato, razão, se não em modo coloquial e prático, de simplificar
e abreviar o título para Zibaldone,
como fizeram alguns editores[4].
Isto porque o termo ‘zibaldone’ significa
simplesmente ‘mistura’, «coletânea caótica e heterogênea de coisas ou de
escritos»[5],
a especificação ‘di Pensieri’ é estritamente necessária para completar o
sentido: tanto que os ‘zibaldones’ anteriores ao de Leopardi não eram
constituídos por pensamentos autônomos, mas sim, somente por citações, extratos
ou resumos de obras lidas que os eruditos e os literatos dos Setecentos e do
início dos Oitocentos tinham o costume de fazer com o objetivo de utilizá-los
em seus trabalhos sucessivos[6].
Mas o
que representava o Zibaldone di pensieri no
âmbito da criação leopardiana?
Este
era, ao mesmo tempo, menos e mais que uma obra. Menos porque tinha evidentemente um caráter privado[7],
heterogêneo, provisório e, por fim, prático, o que teria tornado impossível a publicação
imediata, mesmo se algum daqueles aspectos era corrigido ou balanceado pela
presença do aspecto oposto: dotado de elementos autobiográficos e reduzido a um
determinado público, o “desmesurado manuscrito” tinha, todavia, um tom objetivo
e literário e não deixava, por vezes, de registrar discussões ou polêmicas nas
quais o autor se voltava diretamente para adversários ou então para
interlocutores ideais; desprovido de uma unidade temática, retornava
frequentemente, com esclarecimentos, correções ou desenvolvimentos, por vezes
imediatos, em outros anos mais tarde, sobre assuntos já tratados[8],
e não foi somente datado depois das primeiras noventa e nove páginas, mas
também munido de um complexo sistema de índices; destinado a registrar uma
simples forma verbal, a etimologia de uma palavra ou o título de um livro,
continha, ao mesmo tempo, afirmações definitivas sobre os principais problemas
metafísicos, juízos divinatórios sobre escritores clássicos e modernos,
argumentações de filosofia social e política.
Mas o ‘calhamaço’
era também mais que uma obra. Tipo de
diário, repertório e ensaio ao mesmo tempo, que mesclava formas, temas, esboços
ou projetos diversos, que reunia virtualmente múltiplas obras. Leopardi extraiu
de fato, através da reelaboração e da integração, apenas uma, os cento e onze Pensamentos[9],
que foram iniciados provavelmente quando parou de escrever o Zibaldone di pensieri e foram
distribuídos ao longo de todo o arco cronológico correspondente[10];
todavia, como foi observado, «levando em consideração os esboços e as anotações
que Leopardi nos deixou, se pode dizer que cada uma das páginas do Zibaldone é o princípio de um trabalho
diferente, e traz a promessa de novos e mais amplos desenvolvimentos. Cada
observação, uma obra: isso se poderia dizer»[11].
Estudos muito recentes trouxeram à luz, ainda, o caráter não simplesmente
heurístico, mas também projetivo dos sistemas de indexação do Zibaldone, ao ponto de individuar oito
precisos eixos temáticos, correspondentes a outros tantos possíveis tratados,
por sua vez atribuíveis a cinco setores de interesse: metafísico (Da natureza dos homens e das coisas);
ético (Manual de filosofia prática –
Tratado das Paixões); estético-literário (Teoria das artes- Parte especulativa; Teoria das artes – parte prática);
linguístico (Línguas – Vulgar Latino);
autobiográfico (Memórias da minha vida)[12].
De
outra parte este ‘caos escrito’[13],
esta romântica concepção transcendia as obras únicas, virtuais ou completas que
fossem, seja porque representava o magmático e secreto processo
artístico-intelectual sobre os quais essas se delineavam, seja porque refletia
mais de perto a sua conexão com o eu, uma certa relação – essa também romântica
– entre a literatura e a vida, esclarecida por fim nas suas recorrências
litúrgicas: uma das características e um dos maiores atrativos da meditação
zibaldoniana é que esta conserva em cada ponto e em cada sentido a marca
concreta da experiência.
Mas em certos casos o Zibaldone di pensieri estava acima da obra editada também em outro sentido: se, de fato, por um lado, recolhia materiais muito brutos para serem publicados como tais, por outro, exibia êxitos de perfeita completude, até mesmo mais ousados ou mais precisos do que aqueles que podiam ser mandados para publicação. Este conserva, portanto, um interesse e um valor próprio, seja conceitual ou artístico, de modo que seria errôneo acreditar que tenha sempre e somente uma função vicária em relação à obra editada: às vezes a prepara ou a anuncia simplesmente; às vezes a repete ou a apoia; em outras até mesmo a supera; em outras, ainda, experimenta vias paralelas ou diferentes[14]
Em muitas ocasiões Leopardi procurou dar um destino preciso ao manuscrito que a partir de um certo momento levou sempre consigo. Em vão: ficou sendo a obra secreta da sua vida. Por isso, sem perder o seu caráter subsidiário, o Zibaldone di pensieri é lido e consultado como um livro autônomo, como um grande monumento de pensamento, que ganha um lugar na história ao lado dos Essais de Montaigne, do Dictionnaire historique et critique de Bayle, dos Pensées de Pascal, dos fragmentos de Nietzsche. Que tenha um caráter aforístico[15] – como se vê no próprio título e se confirma retrospectivamente pela única obra em que Leopardi o retomou, os cento e onze Pensamentos – acrescenta um tom de modernidade à sua fisionomia. O dito de Friedrich Schlegel de que as obras antigas são fragmentárias pelas destruições operadas pelo tempo, aquelas modernas por sua própria natureza[16], parece aplicar-se no modo mais pleno e literal ao caso do Zibaldone di pensieri[17]. Nascido a partir de modelos e das sugestões do Setecentos iluminista, o Zibaldone é, ao mesmo tempo, um empreendimento inequivocavelmente romântico. Mas o é também pela busca daquela conexão infinita que enerva e aproxima todo o real. Ainda se em modo diferente, a tentativa de uma observação e de uma crítica enciclopédica do existente, inaugurada por Bayle, não pertence menos a Romantik que a Aufklärung, menos a ‘Allgemeines Brouillon’ de Novalis que a Encyclopédie de Diderot e D’Alambert ou ao Dictionnaire philosophique de Voltaire, sobre o qual a um certo ponto Leopardi deve ter pensado em modelar o próprio trabalho, pois os Disegni letterari, IX (1825)[18] registram o projeto de um ‘Dicionário filosófico e filológico’ e com a mesma expressão ou com a simples expressão ‘Dicionário filosófico’ Leopardi alude ao material zibaldoniano em duas cartas a Stella, respectivamente de 26 de agosto e de 13 de setembro de 1826[19]
Não será inoportuno recordar, a esse propósito, que era contrário ao amor de sistema, mas não ao sistema em si, julgado inevitável, já que o verdadeiro pensador «procura natural e necessariamente um fio na consideração das coisas». Escreve Leopardi, em 16 de abril de 1821, no Zibaldone[20]
Condena-se, e
com grande razão, o amor aos sistemas como danosíssimo ao verdadeiro, e esse
dano tanto mais se conhece, e mais intimamente dele se permanece convicto,
quanto mais se conhecem e se examinam as obras dos pensadores. Entretanto,
porém, eu digo que qualquer homem tem força para pensar por si, qualquer um que
se interna, com as suas próprias faculdades e, diria assim, com seus próprios
passos, na consideração das coisas, em suma, qualquer verdadeiro pensador não
pode absolutamente sê-lo, exceto se não formar, ou não seguir, ou geralmente
não tiver um sistema.
1. Isso está
claro pelos fatos. Quaisquer pensadores, e os maiores principalmente, tiveram
cada um o seu sistema, e foram ou formadores ou sustentadores de algum sistema,
mais ou menos ardentes e empenhados. Deixando os antigos filósofos, considerem
maiores os modernos. Descartes, Malebranche, Newton, Leibniz, Locke, Rousseau,
Cabanis, Tracy, De Vico, Kant, em suma, todos [...].
2. Como pelos
fatos está claro também pela razão. Quem não pensa por si mesmo, quem não
procura o verdadeiro com os seus próprios lumes, poderá talvez acreditar em uma
coisa nisto, em outra, naquilo, e, não cuidando em relacionar as coisas no
todo, e em considerar como podem ser verdadeiras relativamente entre elas,
ficar completamente sem sistema, e contentar-se com as verdades particulares, e
separadas, e independentes uma da outra [...]. Mas o pensador não é assim. Ele
procura natural e necessariamente um fio na consideração das coisas. É
impossível que ele se contente com as noções e as verdades totalmente isoladas.
[...] (Zib. 945-958).
No
dia seguinte escreve um complemento ao pensamento apenas citado, no qual
reitera que «sem sistema não pode existir discurso sobre nenhuma coisa» e que
«o sistema é [...] o distintitivo certo e, ao mesmo tempo, indispensável, do
filósofo» (Zib. 950).
Mas Leopardi vai ainda mais além: analogamente a Cusano,
cuja douta ignorância, «se somente de uma coisa tivéssemos a ciência precisa,
necessariamente teríamos a ciência precisa de todas»)[21], ele afirma que
E como todas
as verdades e todas as coisas existentes estão ligadas entre si muito mais
estrita, íntima e essencialmente do que se acredite ou possa acreditar e
conceber o comum dos próprios filósofos; assim podemos dizer que não se pode
conhecer perfeitamente nenhuma verdade, por pequena, isolada, particular que
pareça, se não se conhecem perfeitamente todas as suas relações com todas as
verdades subsistentes. É como dizer que nenhuma (ainda que mínima, ainda que
evidentíssima e claríssima e facílima) verdade nunca foi nem nunca será
perfeita e inteiramente e em toda parte conhecida. (Zib. 1090-1091, 26 de maio de 1821).
Alguns meses depois toca
novamente neste assunto, tratando da potência cognoscitiva da imaginação:
A ciência da
natureza não é, senão, a ciência das relações. Todos os progressos do nosso
espírito consistem no descobrir as relações. Ora, além de a imaginação ser a
mais fecunda e maravilhosa renovadora das relações e das harmonias mais
escondidas, como disse em outro lugar, é manifesto que aquele que ignora uma
parte ou, antes, uma qualidade, uma face da natureza, ligada com qualquer coisa
que possa formar objeto de raciocínio, ignora uma infinidade de relações e,
portanto, não pode não raciocinar mal, não ver falso, não descobrir
imperfeitamente, não deixar de ver as coisas mais importantes, as mais
necessárias e, também, as mais evidentes. (Zib.
1836-1837, 4 de outubro de 1821).
Passados alguns dias,
Leopardi volta a observar pela terceira vez que, se não se conhecem
perfeitamente as relações existentes entre as coisas mais disparatadas,
Nenhuma coisa se conhece perfeitamente. Ou, assim como aquilo que disse é impossível ao indivíduo, por isso o espírito humano não faz aqueles imensos progressos que poderia fazer. É, porém, certo que se não perfeitamente, ao menos o quanto é possível, é realmente necessário ser homem enciclopédico[...] (Zib. 1922, 15 de outubro 1821)[22]
Homem enciclopédico, Leopardi foi
considerado e, de fato, era, desde a adolescência, como testemunha também esta
recordação zibaldoniana:
Na minha
terra natal, onde sabiam que eu me dedicava aos estudos, acreditavam que eu
dominasse todas as línguas e me perguntavam indiferentemente sobre qualquer uma
delas. Consideravam-me poeta, retórico, físico, matemático, político, médico,
teólogo etc., em suma, enciclopédico. E não por isso acreditavam que eu fosse
grande coisa [...].(Zib.
273, outubro de 1820).
E pouco antes, voltando-se
a Algarotti (Saggio sopra la necessità di
scrivere nella propria lingua), havia observado que
Hoje
[...] não passa mais por verdadeiro literato quem não for enciclopédico; estudo
somente para o qual mal basta a vida do homem, antes de poder usufruí-lo com os
produtos do próprio engenho, ao contrário do pouco estudo que era necessário
aos antigos. (Zib. 233, 8 de
setembro de 1820).
É um tema retomado, de modo acidental,
também no capítulo V de Parini
(1824):
Agora hás de
considerar que hoje também as pessoas dedicadas aos estudos pro profissão com
muita dificuldade são induzidas a reler livros recentes, principalmente aqueles
gêneros cuja finalidade é a distração. Isso não acontecia com os antigos, por
causa do menor número de livros. Mas nesta época rica de escritos, passados de
mão em mão há tantos séculos, nessa quantidade
de nações literatas, em tão grande número de livros produzidos diariamente por
todas elas, e de intenso intercâmbio entre todas; e além disso na imensa
quantidade e variedade de línguas escritas, antigas e modernas, com
desenvolvidas e ampliadas ciências e doutrinas de todos os tipos, tão
estreitamente ligadas entre si, que o estudioso é forçado a abraçar, segundo
suas possibilidades, bem vês que falta o tempo para a primeira e muito mais
para a segunda leitura.[23]
Ao ideal enciclopédico, ou seja, ao hábito
de abraçar circularmente todo o conhecimento, dos escritores e dos filósofos
antigos, são dedicadas duas notas zibaldonianas de 1829, uma de 12 de abril (Zib. 4486), outra de 11 de julho (Zib. 4522). Ao mesmo ideal se referem
duas anotações dos Disegni letterari (X
e XI), respectivamente de 1826 e de 1829[24],
mas o dado extraordinariamente interessante é que desta vez o projeto
enciclopédico vem tomado por um espírito paradoxal e irônico que parece
antecipar, ao mesmo tempo, Flaubert, Wilde e Borges: «Enciclopédia ou Dicionário das cognições inúteis e das
coisas que não se sabem. =Apêndice (ou Suplemento) às (ou das) Enciclopédias,
ou etc.=Enciclopédia das estórias (ou de passatempo, etc.)». E ainda:
«Enciclopédia das cognições inúteis e das coisas que não se sabem; ou
Suplemento de todas as Enciclopédias»
Justamente neste arco de anos, mais precisamente em três cartas ao editor Stella do ano de 1827 (13 de julho, 23 de agosto e 23 de novembro), Leopardi alude ao seu Zibaldone com o termo ‘enciclopédia’[25]
Todos
esses elementos servem para iluminar o sentido profundo que dá vida ao Zibaldone di Pensieri, o seu projeto
titânico e desesperado, o seu enciclopedismo impossível. Esse mirava o Todo,
mas não podia não ser um fragmento – como Leopardi sabia. Porque se as coisas
são ligadas entre si por um sistema de relações, em compensação, o sistema, e
as próprias coisas sozinhas, justamente pela infinidade de tais relações,
tornam-se transcendentes e inacessíveis em relação ao esforço cognoscitivo do
sujeito. No falimento – todo romântico e moderno – da Totalidade a qual o Zibaldone aspira, reside uma razão
ulterior do seu fascínio e da sua grandeza.
Tradução
de Andréia Riconi e Andréia Guerini
Universidade
Federal de Santa Catarina
[1] Este artigo foi
extraído da edição Rigoni, Mario Andrea. Il
pensiero di Leopardi. Torino, Nino Aragno Editore, 2010, pp. 75-84.
[2]A definição se encontra na
carta ao editor milanês Antonio Fortunato Stella, de 22 de novembro de 1826.
Ver Epistolário, vol. II, p. 1268.
[3] Cfr Zib. 4295 e, no vol. III da edição de Pacella, p. 1175.
[4] De G. De
Robertis (Zibaldone scelto e annotato,
Firenze, 1922) a R. Damiani (Zibaldone,
edizione commentata e revisione del testo critico, 3 tomos, Milano, 1997).
[5] Sobre a
origem da palavra, ver W.Th. Elwert,
L'etimologia della parola italiana ‘Zibaldone’ [1955], em Studi di letteratura veneziana,
Venezia-Roma, 1958, pp. 63-70, com Il
testo del primo 'Zibaldone` (Il
‘Libro terzo dell’Almansor'), pp. 70-110. Segundo a interessante análise de Elwert,
curiosamente negligenciada pelos leopardistas, Cibaldone seria o nome de um
médico veneziano desconhecido, que traduziu em versos italianos o terceiro
livro do Almansorre, do médico árabe
Rhazes, um tratado de higiene no qual os conselhos para se manter saudável eram
muito difundidos: Zibaldone representaria, então, um caso de passagem do nome
próprio para o nome comum, análogo ao de Calepino, Taccuino, entre outros.
[6] Sobre a radical novidade do Zibaldone leopardiano em relação à
tradição dos “zibaldones” confira G,Panizza, Perché lo ‘Zibaldone' non si intitolava ‘Zibaldone’ em Rivista internazionale di studi leopardiani,
1, 1999, o qual se envia também para a bibliografia anterior sobre o assunto.
[7] Cir S.
Solmi, Introduzione a G. Leopardi, Opere, 2 volumes, organizado por S. e R.
Solmi, Milano-Napoli, 1966, t. II, p. XIII.
[8] Sobre a “circularidade” do Zibaldone di Pensieri tem insistido a crítica recente, de R.
Argullol (Leopardi pensatore tragico. Una lettura dello Zibaldone, in Leopardi e il pensiero moderno,
organizado por C. Ferrucci, Milano, 1989, p. 120) a F. Cacciapuoti (Il pensiero filosofico di Giacomo Leopardi
attraverso i percorsi delle polizzine non richiamate, in Leopardi poeta e pensatore, organizado
por S. Neumeister e R.Sirri [Atti del III Convegno Internazionale della Deutsche
Leopardi-Gesellschaft, Napoli, 20-24 de março de 1996], Napoli, 1997, p. 22).
[9] Foi Giuseppe De Robertis a destacar
pela primeira vez, em 1922, a derivação dos Pensamentos
do Zibaldone: “Dos CXI Pensamentos, acreditamos que somos os
únicos a perceber que pelo menos setenta e quatro foram retomados daqueles do Zibaldone” (G. De Robertis, Saggio sul Leopardi, Firenze, 1973, p.
50). Sobre os Pensamentose e a sua
relação com o Zibaldone confira C.
Ruozzi, Scrittori italiani di aforismi,
2 vols., Milano, 1994 e 1996, vol. 1, pp. 1081-1083. Em vez disso, inaceitável é a opinião,
formulada por G. Panizza, que a obra que deriva mais diretamente do Zibaldone seja as Operette Morali; como também a opinião, ainda de Panizza, que o
pensamento das Operette Morali estivesse
“já totalmente estabelecido antes da composição”, sendo que – sem levar em
conta outras razões – nenhum conteúdo literário pode existir anteriormente à
própria forma. (confira Un indice
dello “Zibaldone” e la storia delle “Operette morali", in Per Cesare Bozzetti. Studi di letteratura
filologia italiana, organizado por S. Alboníco, A. Comboni, G. Panizza, C.
Vela, Milano, 1996, pp. 599-614).
[10] Esses foram publicados
postumamente por Ranieri em 1845, mas segundo um desenho feito pelo autor.
[11] G. De Robertis,
Saggio sul Leopardi, cit., p. 45.
[12] Confira F.
Cacciapuoti, Il pensiero filosofico di
Giacomo Leopardi attraverso i percorsi delle polizzine non richiamate,
cit., que remete ao trabalho anterior desenvolvido em conjunto com o grupo de
catalogadores das Carte Leopardi della
Biblioteca Nazionale di Napoli (S. Acanfora, M. Andria, S. Gallifuoco, P.
Zito).
[13] De acordo com a definição de
J. A. Vogel, o canônico e erudito exilado alsaciano na Itália e, a partir de
1806, em Recanati, que teria sugerido a Giacomo que fizesse um “zibaldone”. Sobre
esta questão confira M. Verdenelli, Cronista dell’idea leopardiana di
“Zibaldone”, in “Il Veltro”, XXXI, 5-6, setembro-dezembro de 1987 e G.
Panizza, Perché lo ‘Zibaldone’ non si
intitola ‘Zibaldone’, cit.
[14] Sobre as
diversas possibilidades de leitura do Zibaldone,
confira L. Blasucci, Quatro modi di
approccio allo “Zibaldone”, in I
tempi dei “Canti”. Nuovi studi
leopardiani, Torino, 1996, pp. 229-242.
[15] Ver Dall’epigrama all’aforismo, pp. 223-234.
[16] Cfr. F.
Schlegel, Frammenti critici e scritti di
estrtica, organizado por V. Santoli, Firenze, 1967, p. 50 (fragmento 24 de
“Athenaeum”).
[17] Lembre que Leopardi, na
verdade, conferia o caráter ensaístico – portanto fragmentário, experimental,
incompleto – a toda a sua obra: cfr a carta a Charles Lebreton do final de
junho de 1836 (Epistolario, vol. II, p. 2074)
[18] Cfr Prose, p. 1214.
[19]Epistolario, vol. I, pp. 1223 e 1238.
[20] Todas os trechos traduzidos
do Zibaldone di pensieri são de autoria de Tânia Mara
Moysés, Andréia Guerini e Anna Palma e estão disponíveis no endereço eletrônico
http://www.zibaldone.cce.ufsc.br [N.T.]
[21]Nicolai
de Cusa opera omnia,
V, Idiota: De sapientia, De mente, de
staticis experimentis, ed. L. Baur, Lipsiae 1937, p. 56.
[22] Grifos meus.
[23]Prose,
p. 96.
[24] Ibid., pp. 1216-1217 e 1218.
[25]Epistolario,
vol. II,
respectivamente pp. 1348, 1371, 1415.